A elaboração de um plano de recuperação judicial é um processo complexo, que requer uma abordagem estratégica para assegurar a viabilidade econômica de uma organização em um contexto de dificuldade financeira, traçando uma nova rota para que ela reorganize seu fluxo de caixa, supere os obstáculos financeiros e continue em operação.
Delinear um caminho de retomada do crescimento, mais do que um plano, exige traçar estratégias assertivas, que coordenem ações capazes de honrar as responsabilidades em aberto, preservar a imagem e a reputação da empresa no mercado e ao mesmo tempo reequilibrar o fluxo de caixa.
Mas, afinal, o que se entende por estratégia no contexto empresarial e como é possível traçá-la de maneira alinhada aos objetivos orginalmente estabelecidos pela organização ao entrar com um pedido de recuperação judicial?
No artigo de hoje, a MGC Capital traz algumas estratégias essenciais a serem implantadas durante o processo de recuperação judicial para aumentar suas chances de sucesso.
O que é recuperação judicial
Antes de abordar as estratégias e passos para a elaboração de um plano de recuperação judicial, é importante compreender o que esse processo envolve.
Regulamentada pela Lei nº 11.101/2005, a recuperação judicial é um processo legal que possibilita a empresas em dificuldades financeiras renegociarem suas dívidas e reestruturarem suas operações, com o objetivo de evitar a falência e manter suas atividades.
Esse processo pode ser desafiador, exigindo uma abordagem estratégica para superar os obstáculos e garantir a viabilidade da empresa a longo prazo.
A ferramentas central deste processo é o plano de recuperação judicial. Ele deve ser completo e viável, contemplando as medidas necessárias para reestruturar a empresa, cortar custos, renegociar dívidas e buscar novas fontes de receita. Por ser complexo e repleto de meandros, esse plano deve ser elaborado com o apoio de especialistas, como consultores financeiros e advogados, assegurando que todas as áreas da empresa sejam analisadas e que as soluções propostas sejam realistas e alcançáveis.
O plano de recuperação deve conter metas claras e objetivas que a empresa se propõe alcançar durante o processo. Essas metas devem ser realistas e alinhadas com a capacidade da empresa de gerar receita e reduzir custos. Além disso, é importante estabelecer um cronograma para alcançar cada uma dessas metas.
Cenário brasileiro de empresas em recuperação judicial
O cenário econômico complexo enfrentado pelo Brasil nos últimos anos tem impactado diretamente a capacidade operacional e financeira das organizações. Desde 2023, o País tem assistido a uma verdadeira onda de pedidos de recuperação judicial. Empresas de variados portes e segmentos cada vez mais recorrem a essa ferramenta para superar crises financeiras e evitar a falência.
Setores como o varejo, indústria, construção civil e serviços foram particularmente afetados, resultando em um número crescente de empresas que buscam proteção judicial para reestruturar suas operações e suas dívidas.
Para se ter uma ideia, em maio deste ano o Brasil registrou 184 pedidos de recuperação judicial de pequenas, médias e grandes empresas, um aumento de 98% em relação ao mesmo mês de 2023. Trata-se do maior número mensal desde março de 2018, segundo dados divulgados pelo birô de análise Serasa Experian.
Ao considerarmos o acumulado do primeiro trimestre de 2024, foi registrado um aumento de 64% em relação ao mesmo período de 2023. Os números anteriores já eram eloquentes: no primeiro trimestre de 2023 houve um crescimento de mais de 70% em relação ao mesmo período de 2022.
Os dados complementam outro levantamento, realizado pela consultoria RGF & Associados, segundo o qual, no fechamento do primeiro trimestre, um total de 4.203 companhias estavam sob tutela da Justiça para renegociar dívidas com credores, alta de 3,9% em relação ao trimestre anterior.
De acordo com o levantamento da RGF, que compila os dados desde o segundo trimestre de 2023, o número absoluto de empresas que entrou em recuperação judicial foi 17% menor no último trimestre ante o período anterior – 296 em 2024 ante 357 no quarto trimestre de 2023. No entanto, como menos empresas saíram da recuperação no início do ano, o número total de companhias nessa situação continua a crescer.
O que é estratégia no contexto empresarial?
Estratégia é um termo amplamente usado no contexto empresarial e refere-se ao conjunto de ações planejadas que uma organização põe em prática para atingir seus objetivos de longo prazo. No ambiente corporativo, a estratégia é essencial para orientar as decisões, direcionar recursos e estabelecer um caminho claro para o sucesso sustentável.
A estratégia envolve a formulação de planos que ajudam uma empresa a posicionar-se de maneira competitiva no mercado. Esses planos consideram as oportunidades e ameaças do ambiente externo, assim como as forças e fraquezas internas.
Uma boa estratégia alinha as ações da empresa com seus objetivos de negócio, garantindo que todas as áreas estejam trabalhando em harmonia para alcançar os mesmos fins.
5 estratégias essenciais para a recuperação da empresa
Estratégia 1: diagnóstico financeiro e reestruturação operacional
Antes de elaborar um plano de recuperação judicial, é fundamental fazer uma análise completa da situação financeira da empresa. Isso inclui o levantamento de todas as dívidas, avaliação dos ativos e passivos e identificação das principais causas da crise. Com uma avaliação clara da situação de momento é possível desenvolver estratégias mais precisas e eficazes.
Uma das partes mais importantes do plano de recuperação são as estratégias de reestruturação a serem adotadas. Essas estratégias podem incluir a renegociação de contratos, a venda de ativos, a redução de custos e a reestruturação operacional. É crucial que essas estratégias sejam viáveis e tenham impacto positivo na saúde financeira da empresa.
A reestruturação operacional envolve a revisão e aperfeiçoamento das operações da empresa. Isso pode incluir a redução de custos, o fechamento de unidades não lucrativas, a venda de ativos não essenciais e a reestruturação da força de trabalho. O objetivo é tornar a empresa mais eficiente e competitiva, ajustando suas operações às novas realidades do mercado.
Áreas a serem consideradas na reestruturação:
- Revisão de processos e cadeia de suprimentos.
- Automação e inovação tecnológica.
- Redução de despesas administrativas.
- Reavaliação de contratos e fornecedores.
- Venda de ativos ociosos ou não essenciais.
Estratégia 2: renegociação de dívidas e contratos
A renegociação de dívidas com credores costuma ser considerada a espinha dorsal de um plano de recuperação judicial. Isso pode incluir a extensão dos prazos de pagamento, a redução dos juros, o perdão parcial de dívidas, a reestruturação dos termos de pagamento e a conversão de dívidas em capital.
Vale lembrar que os credores podem ter um papel decisivo na recuperação da empresa. Manter um diálogo aberto e transparente com eles é essencial para garantir o apoio necessário à aprovação do plano de recuperação.
A negociação pode ser complexa e envolver diferentes tipos de dívida, como empréstimos bancários, dívidas com fornecedores ou quirografárias. Os interesses de cada credor podem variar bastante, por isso é importante ter flexibilidade para apresentar propostas vantajosas para todas as partes envolvidas.
Nessas horas, o apoio de uma equipe jurídica e financeira experiente é essencial na condução de negociações eficazes e na viabilização de acordos que contribuam para a continuidade do processo de recuperação.
Os benefícios da renegociação de dívidas incluem:
– Melhora do fluxo de caixa: ao reduzir o valor das parcelas ou estender prazos, a empresa pode liberar recursos para investir em sua operação.
– Evitar a execução de garantias: com um bom acordo, a empresa pode evitar a execução judicial de garantias, como a penhora de bens e ativos que poderiam ser tomados por credores.
– Reestabelecimento de relações comerciais: um acordo de renegociação pode melhorar a relação com fornecedores e credores, facilitando futuras negociações.
Outra estratégia essencial no processo de recuperação judicial é a renegociação de contratos. Muitos contratos firmados antes da crise da empresa podem não ser mais viáveis, e sua renegociação pode ajustar as condições contratuais à nova realidade da empresa.
Embora a renegociação seja uma ferramenta poderosa, não são pouco os desafios envolvidos nesse processo. Convencer os credores a aceitar novas condições pode ser difícil, especialmente se a empresa tiver um histórico de inadimplência. Além disso, o processo de negociação pode ser demorado e exigir a intervenção de mediadores ou do Judiciário.
Redução de custos operacionais e gestão de fluxo de caixa
A redução de custos operacionais é fundamental para melhorar o fluxo de caixa da empresa em recuperação judicial. Com menos despesas, a empresa pode usar os valores economizados para o pagamento de dívidas, reinvestimento no negócio e outras iniciativas para sua reestruturação.
Reduzir custos não significa apenas cortar despesas. É preciso usar estratégia, focando em áreas que realmente impactam o fluxo de caixa e que não comprometem a qualidade dos produtos ou serviços oferecidos.
a) Revisão de contratos e fornecedores
- Renegociação de contratos: Renegociar contratos com fornecedores, buscando melhores condições ou alternativas mais econômicas, pode resultar em economias significativas.
- Alternativas locais: Considerar fornecedores locais que possam oferecer preços mais competitivos com a redução de custos logísticos.
b) Otimização de processos
- Automatização: Investir em automação pode reduzir a necessidade de mão de obra em processos repetitivos, resultando em economia de custos e aumento de eficiência.
- Lean manufacturing: Aplicar processos de produção enxuta pode ajudar a eliminar desperdícios e otimizar o uso de recursos.
c) Redução de despesas gerais
- Corte de gastos supérfluos: identificar e eliminar despesas que não contribuem diretamente para o core business da empresa, como benefícios ou assinaturas pouco utilizadas.
- Energia e recursos: implementar medidas de economia de energia e redução no consumo de água e de outros recursos pode diminuir significativamente os custos operacionais.
d) Ajuste de pessoal
- Redimensionamento da equipe: Em alguns casos, a redução do quadro de funcionários pode ser inevitável. Contudo, é importante executar essa medida com cuidado para não prejudicar a operação.
- Terceirização: Considerar a terceirização de algumas atividades não essenciais pode reduzir custos de contratação e benefícios.
A par disso, vale lembrar que uma gestão eficiente do fluxo de caixa é crucial ao longo do processo de recuperação judicial. A empresa deve monitorar de perto suas entradas e saídas de recursos, garantindo liquidez suficiente para manter as operações enquanto cumpre com as obrigações acordadas no plano de recuperação.
Um planejamento financeiro rigoroso pode ajudar a evitar surpresas e garantir que a empresa tenha os recursos necessários para operar de maneira sustentável.
Melhorias na gestão e governança corporativa
A gestão e governança corporativa desempenham papéis centrais no processo de recuperação judicial. A boa governança assegura que as decisões adotadas pela administração da empresa sejam pautadas pela transparência, responsabilidade e respeito aos interesses de todas as partes envolvidas. Isso é fundamental para reconstruir a confiança no mercado e garantir que as medidas de reestruturação sejam eficazes.
Como a MGC Capital pode ajudar a sua empresa em processos de recuperação judicial
Com todas as restrições e reservas que costumam ser feitas em círculos leigos a empresas envolvidas em processos de Recuperação Judicial, o fato é que esse pode ser o caminho para uma retomada em condições de competitividade até melhores que antes. Ao oferecem uma oportunidade de reorganização para evitar a falência, os mecanismos da recuperação judicial provam-se um recurso valioso para empresas em dificuldade financeira.
Por se tratar de um processo jurídico complexo, a recuperação judicial exige conhecimento altamente especializado. Esse processo pode requerer uma reavaliação de práticas financeiras, administrativas e de abordagem do mercado. Por isso, é fundamental contar com profissionais e organizações especializados e experientes, incluindo consultorias jurídicas e financeiras que apoiem na elaboração de um plano de reestruturação compatível com a realidade e o contexto econômico de cada organização.
A MGC Capital atua há mais de 9 anos no atendimento a empresas de todos os portes que passam por situações financeiras complexas. Com uma abordagem multidisciplinar e customizada, prestamos consultoria e assessoramos empresas em todas as fases de seu processo de recuperação judicial, com o suporte de profissionais com profundo conhecimento sobre as leis e peculiaridades do segmento jurídico.
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